Publicado em 21 de Junho de 2021 às 10:33 em: Exames
Pela primeira vez, um importante estudo revelou predisposição genética a casos graves de Covid-19. Pesquisadores descobriram que quadros mais severos da doença estão associados ao baixo desempenho de moléculas que identificam o vírus e são herdadas dos pais. A equipe é liderada por pesquisadores da Faculdade de Biologia e Biotecnologia da Higher School of Economics University, localizada na Rússia.
O estudo apresentou que a predisposição genética está associada ao sistema de imunidade das células T, que é um dos principais mecanismos de defesa do corpo contra o vírus. O elemento estranho nas células, chamado de antígeno, é importante para a ativação dos linfócitos T, responsáveis por destruir as células infectadas pelo vírus.
“As moléculas de antígenos de leucócitos humanos classe I (HLA-I) representam o grupo de moléculas encarregadas de identificar e distinguir tudo o que é do próprio corpo e o que não é. Seis moléculas dos HLA-I, encontradas na superfície de todas as células, formam um conjunto único para cada indivíduo, que é determinado a partir dos genes recebidos dos pais”, explica o médico imunologista e geneticista do laboratório Genomika Einstein, João Bosco Oliveira.
De acordo com especialista, o conjunto de HLA-I, que detecta bem o vírus, pode agir na destruição das células infectadas de forma mais rápida e eficaz. Se isso não acontecer, é provável desenvolver um quadro grave da doença. O que os cientistas investigaram foi a possível conexão direta entre a gravidade da doença e o desempenho dos HLA-I na identificação do Sars-CoV-2. A análise dos genótipos de mais de 100 pacientes que sofreram de Covid-19 foram analisadas, além de mais de 400 pessoas saudáveis.
Quanto menor a capacidade dos alelos HLA-I em apresentar o Sars-CoV-2 às células, mais pontos o participante do estudo recebia. Em ambas as avaliações, a contagem de pontos de pessoas que evoluíram para quadros graves da doença foi significativamente maior do que a de pacientes com casos moderados e leves. Os pesquisadores concluíram que a pontuação de risco obtida pelo modelo estabelecido se mostrou altamente eficaz e precisa para prever a gravidade da Covid-19.
Além das correlações descobertas entre o genótipo e a gravidade da Covid-19, a abordagem sugerida também ajuda a avaliar como uma certa mutação do vírus pode afetar o desenvolvimento da imunidade de células T.
Outros estudos sobre genética e Covid-19 estão sendo feitos, como o que comprova que a relação entre o coronavírus e o sistema imunológico de cada paciente influencia na gravidade da doença. O assunto é muito discutido, pois é comprovado que existe influência significativa no decorrer e na gravidade da doença em cada paciente. Um estudo feito por uma equipe de cientistas da Áustria revelou que os infectados pela Covid-19, que apresentam quadros clínicos graves e necessitam de hospitalização, têm uma variação genética específica com mais frequência que as pessoas com quadros leves da doença.
Refere-se à uma ausência de um receptor no sistema imunológico. É algo raro, faltando em cerda de 4% da população. A questão é que as pessoas com uma falta parcial ou total desse receptor, o NKG2C, tendem a desenvolver casos graves da Covid-19. A variação genética foi encontrada principalmente em pessoas infectadas com o coronavírus Sars-CoV-2 e que tiveram de ser hospitalizadas. A descoberta desse fato serve como mais uma forma de combate à pandemia.
“A reposta imunológica antiviral através das células natural killer (NK) é bastante relevante para o combate da replicação viral durante a fase inicial da infecção", comenta o médico imunologista e geneticista do laboratório Genomika Einstein, João Bosco Oliveira. “As células NK são linfócitos do sistema imunológico que tem o objetivo de defender o corpo. Elas têm receptores ativadores bem específicos em sua superfície, um deles é o receptor NKG2C, que se comunica com outra célula infectada através de uma das suas estruturas, chamada HLA-E”, acrescenta. É dessa forma que as células infectadas pelo vírus são destruídas. De acordo com o geneticista, a parcela da população que não possui o NKG2C é por causa de uma variação genética e cerca de 30% dos indivíduos só apresentam o receptor de forma parcial.